Engraçado como as coisas mais difíceis na vida são as que mais ensinam e, no meu caso, inspiram.
Fui dormir ontem, pós-cabeçadinha-da-noite, com ideias românticas pra um texto-crônica hoje.
Ainda tuitei: "Dizem que me tornei dura, peitiquenta, exigente demais, chata demais... Acho que amanhã vou escrever sobre..."
Mas aí vem a vida (ah, vida danada de dura) e mostra que sempre há algo mais importante que nossos próprios problemas, sempre tem alguém que precisa de mais acalanto que nós, egocêntricos.
Tenho um irmão, Phelipe, que tem um irmão. Explico: Júnior é pra o meu irmão mais que um amigo, aqueles irmãos que a gente escolhe, que aparecem na nossa vida e a gente resolve que não vai deixar passar (igual Josy é pra mim, sabe?)...
Ambos tem 20 anos. Ambos tinham o sonho da aviação. Júnior foi pra aeronáutica e Phelipe, estudar aviação civil no interior, onde trabalha e tem uma filha. Separados por alguns kilometros, mas sempre juntos, sempre unha e carne. Quando Lipe vinha em casa, não se desgrudavam. Sempre.
Hoje acordei com a triste, trágica, doída notícia do falecimento de Juninho na merda de um acidente de moto. Ele pilotava, após sair de uma festa onde bebeu. Bastante. Os amigos não conseguiram segurá-lo.
Júnior perdeu a vida. E, por muito tempo, a família vai se sentir assim, sem vida... Meu irmão, a namorada, as pessoas próximas, que o amavam, idem. Sem um pedaço. Aquele vazio que, acho, todos conheceram em algum momento. E sinta-se feliz se nunca passou por isso, porque é foda.
Mas não vim aqui expor a dor de ninguém. Muito menos especular, como vi fazerem durante todo o dia, sobre o que aconteceu de fato, se houve culpados, bla bla bla.
Há 15 dias faleceu uma moça do mesmo prédio de Júnior. Vinte e poucos anos. Deixou 03 filhos;
Há 01 mês, um amigo nosso, Ivandro. 30 e poucos anos;
Há alguns anos, minha irmã, nossa princesa, Karol. DOZE anos (maior dor das nossas vidas);
Há também 15 dias vi um amigo (cara mega responsável, do bem, mas que teve um momento de, digamos, fraqueza) sair de uma 'balada' trocando as pernas, pegando um carro e se arriscando em uma BR. Graças a Deus ele - e eu, que tava junto, tivemos sorte.
Tudo isso em menos de um mês (com exceção da minha irmã). Tudo isso aqui por perto. Se formos analisar o geral, é assustador. Mas ninguém mais se assusta. Sempre vai ter uma festinha nova...
Todos os dias esses acidentes idiotas levam quem amamos. E os principais motivos são os mesmos: bebida, cansaço, ou os dois.
O que eu queria apenas, era que, em algum momento, essas tragédias, essas famílias (mais dilaceradas que os corpos que ficam nas avenidas e estradas), que as lágrimas que caem sobre caixões ou camas de hospital servissem de lição pra nós (e me incluo, tb já fiz isso em algum momento), IDIOTAS que, quando bebemos, nos achamos imortais, intocáveis, sempre estamos certos. Mais que comum ouvir as famosas (e estúpidas): "Eu sei o que tô fazendo", "Quando eu bebo dirijo até melhor"...
Ainda sonho com um país onde as regras sejam seguidas, onde as leis sejam estupidamente duras, que se assemelhem às do Japão, por exemplo, onde morrem mais pessoas em improváveis acidentes de elevador, que em acidentes de trânsito.
O que eu desejo, na verdade, é não ter mais um corpo morto pelo qual chorar. Não por motivos estúpidos e desnecessários. O que eu desejo é não acordar mais numa manhã de domingo com notícias como a que recebi hoje, como a que recebi há 15 anos.
E eu espero, Juninho, do fundo do meu coração, que você já esteja num local de paz, de luz. E que tua mãe, sua família, tua namorada, teus amigos e que Phelipe, tão teu irmão quanto meu, tenham muita, muita força, muito conforto pra suportar essa dor absurda. E pra seguir (por que a vida sempre tem que seguir), levando no coração o amor que vocês trocaram, e as boas lembranças que você deixou nesses breves 20 anos.
Muita paz!!!
Monika Souza